quinta-feira, 19 de abril de 2012

"A" mudança parte I



Quando estávamos nas vésperas de mudarmos do Brasil senti diversas dores, dores da alma, dores do coração, pensei que fosse morrer antes de conseguir pegar o avião. 
Essa é a palavra: morte. Falei muito com a minha mãe sobre isso, que por sua vez vivenciou o velório.
Esse processo doloroso passou por muitas etapas, sempre se revezando com o choro, a parte dos pertences materiais era a representação física do que ocorria no fundo do meu coração:


1. Por onde começar.
Colocar na cabeça que nossas vidas deveriam caber dentro de 7 malas de 32kg foi o primeiro e inacreditável, passo. A mente demora a entender, 15 anos de casamento, 2 filhos, muitas e muitas coisas acumuladas, colecionadas, guardadas, amontoadas. Uma casa re-ple-ta de lembranças, de infância, da adolescência, de viagens, de amigos, de família, festas, enfim. Quadros, fotos, cartas, livros, revistas, miniaturas,
badulaques e brinquedos. Meu Deus!! Deixar tudo! Repetí mentalmente muitas vez: "As vezes, para ir para frente é necessário deixar tudo para trás, tudo para trás, tudo, tudo, tudo".



2. O que é importante.
Depois da primeira etapa entendida essa foi bem estranha, me deu uma vontade súbita de não levar nada, doar tudo ou melhor não mexer em nada. Deixar como está, tal qual como quando se morre de morte morrida. Eu sentia uma certa revolta por ter guardado tanto, por tanto tempo e não poder levar comigo, a própria revolta do morto. Com a cabeça mais no lugar e com o incentivo da minha mãe refiz minha análise, levar aquilo que é importante. Importante, nesse caso, seria aquilo que me fizesse sentir em casa onde quer que eu estivesse e obviamente que coubesse na mala, meu aparador querido e meu criado mudo provençal, por tanto, estavam fora de cogitação. Pensei nos presentes para lembrar das pessoas, pensei nos livros pra não morrer de saudades do português, pensei em alguns objetos que eu mesma adquiri por escolhas bemm acertadas e que fizeram da minha casa o meu lar. E no meio disso tudo foram se fechando malas, uma após a outra, todas as sete.



3. A dúvida.
Depois de tudo encaminhado, veio a dúvida: Será que devo mesmo levar aquilo? Não seria melhor deixar e abrir espaço para aquele outro? Ai, que cansativo, que medo de me arrepender depois!! Mas, fazer o que? A vida é bem desse jeito, feita de escolhas, umas acertadas, outras erradas. Sempre me fazendo lembrar que era necessário manter o foco, não desperdiçar energias, tinha muito por vir e eu precisaria de muita força. Escolhi como pude. Não imaginei que pudesse ser tão desgastante, no último dia remexi algumas malas, numa mistura de incerteza e de fuga, fiquei horas nessa função, mal olhava para os lados, acho que foi a forma que eu encontrei de sobreviver ao último dia na minha casa, sem EU desmoronar.



4. A despedida.
Essa foi a etapa mais forte, a que vai permanecer na lembrança por toda a vida.
                 

 ----- continua------









Esse Post precisava ser dividido, é muita emoção recordar tudo isso, pausa para enxugar as lágrimas, snifff...



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